sábado, 19 de março de 2011

Capoeira (história - Brasil/Angola)

História da capoeira e sua origem


A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que ritualiza movimentos de artes marciais, jogos, dança e música. A origem cultural do que se transformaria capoeira foi trazida de Angola para o Brasil depois do século 16 em regiões da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Participantes da capoeira formam uma roda e revezavam tocando instrumentos musicais como o berimbau, cantando e fazendo a luta ritual em pares no centro do círculo. A capoeira é marcada por acrobacias e uso extensivo de rasteiras e chutes.
A origem e história da capoeira é assunto de debate, com argumentos de que ela se originou de dança com movimentos improvisados de luta, até os que acham que ela é uma forma de luta para batalhas descendente de técnicas africanas ancestrais.
A origem e história mais antiga da capoeira não é clara. A capoeira é uma combinação de artes marciais africanas e brasileiras, porém opiniões estão genericamente dividas entre aqueles que acreditam que sua origem está nos estilos de luta africanos e os que acham que ela é uma forma dança brasileira única, resultado de várias influências africanas e brasileiras.
Alguns estudiosos da história da capoeira acreditam que ela foi criada e desenvolvida por escravos vindos da África como forma de praticar artes marciais de maneira dissimulada, parecendo ser um jogo ou dança. Uma vez que os donos dos escravos coibiam toda a forma de arte marcial, a capoeira a disfarçava como uma dança. Outros acreditam que a capoeira era praticada e usada contra os ataques portugueses ao quilombo de Palmares.
Não existe história escrita para dar suporte à idéia de que a origem da capoeira era de uma luta para batalhas, e muitos acham que foi uma forma de dança desenvolvida por escravos a partir de danças e rituais africanos. Ainda que não existam muitas evidências históricas da real origem da capoeira, o trabalho etnográfico do artista Johann Moritz Rugenda de 1835 "Voyage Pittoresque dans le Brésil" descreve a capoeira como "dança da guerra", o que dá credibilidade à teoria de que ela se originou da dança e não de uma forma de luta.

No Brasil

Por algum tempo a capoeira foi proibida no Brasil. Em 1890 o presidente Deodoro da Fonseca assinou uma lei que proibia a prática da capoeira com severas punições a quem fosse pego. Apesar do banimento da capoeira, Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) criou um novo etilo chamado "Capoeira Regional", diferente da tradicional "Capoeira Angola" do Mestre Pastinha. Em 1930 as autoridades foram convencidas do valor cultural da capoeira e terminou a sua proibição. Mestre Bimba criou a primeira escola de capoeira em 1932, a Academia-escola de Capoeira Regional, na cidade de Salvador, e é considerado o pai da capoeira moderna.

Capoeira 
Arte, dança, luta...
Brasileira vinda nos ventres da África. Nasceu e cresceu no Brasil e hoje é referência de esporte Brasileiro. Desenvolvida por escravos africanos trazidos ao Brasil e seus descendentes, é caracterizada por movimentos ágeis e complicados, feitos com freqüência junto ao chão ou de cabeça para baixo, tendo por vezes um forte componente ginástico-acrobático. Uma característica que a distingue de outras lutas é o fato de ser acompanhada por música. Porém existem vários grupos de capoeira pelo mundo, cada um com um estilo pouco diferente. A palavra capoeira tem alguns significados, um dos quais se refere às áreas de mata rasteira do interior do Brasil (capoeral). "Capoeira é cultura e quem é capoeirista tem ela no sangue..." (Mestrando Apache.)

Capoeira Regional e suas características (Mestre Bimba)


capoeira

 

A Capoeira Regional é uma manifestação da cultura baiana, que foi criada em 1928 por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba). Bimba utilizou os seus conhecimentos da Capoeira Angola e do Batuque (espécie de luta - livre comum na Bahia do século XIX) para criar este novo estilo. Para fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do capoeirista, colocando-o em pé, criou um código de ética rígido, que exigia até higiene, estabeleceu um uniforme branco e se meteu até na vida dos alunos. "Para treinar com meu pai era preciso provar que estava trabalhando ou mostrar o boletim do colégio", conta Demerval dos Santos Machado, conhecido como "Formiga" nas rodas de capoeira, e organizador do da Fundação Mestre Bimba, ao lado do irmão, Mestre Nenéu


Batizado
Batizado: É um momento de grande significado para o aluno, pois encontra-se apto para jogar pela primeira vez na roda. Itapoan, Ex-aluno retrata o Batizado da seguinte maneira: "O Batizado consistia em colocar em cada calouro um nome de guerra. O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido". Fred Abreu referindo-se ao batizado, cita que na intimidade da Academia de Mestre Bimba ele assim se dizia "Você hoje vai entrar no aço". Desta maneira o Mestre avisava ao calouro que chegou a hora do seu batizado, era um momento de grande emoção, pois tratava-se de jogar capoeira pela primeira vez na roda amimada pelo berimbau. Para este jogo era escolhido um formado ou um aluno mais velho da Academia que estivesse na aula, que como padrinho incentivava ao afilhado a jogar, e após o jogo o Mestre no centro da roda levantava a mão do aluno e então era dado um apelido com o qual passaria a ser conhecido na capoeira.

Significado da Música
Músicas: Podemos dividir em duas partes - a primeira referente aos toques de Berimbau, São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria, Idalina e Iúna. A rigor cada toque tem um significado e representa um estilo de jogo. São Bento Grande é um toque que tem ritmo agressivo, indica um jogo alto com golpes aprimorados e bem objetivos, um "jogo duro". A Banguela é um toque que chama para um jogo compassado, curtido, malicioso e floreado. Cavalaria é o toque de aviso, chama a atenção dos capoeiristas que chegou estranhos na roda, outrora avisava da aproximação de policiais. Iúna é um toque especial para os alunos formados por Mestre Bimba, incita um jogo amistoso, curtido, malicioso e com a obrigatoriedade do esquente. Santa Maria, Amazonas e Idalina são toques de apresentação. A segunda eferência é sobre as musicas - quadras e corrido. As quadras são pequenas ladainhas com versos composto de 4 a 6 linhas. O corrido são cantigas com frases curtas que é repetido pelo coro. Plasticamente a Capoeira Regional é identificada pêlos golpes bem definidos, pernas esticadas, movimentos amplos, jogo alto e objetivo.

Em Angola

Capoeira Angola

A Capoeira Angola é um dos traços da manifestação da África Bantu no Brasil. Ela conserva sua essência no N'golo, ritual de passagem a vida adulta, onde as jovens são disputadas entre os jovens gurreiros das tribos e quem melhor se sobresair cabe o direito de escolher sua esposa dentre as jovens sem o pagamento do dote matrimonial.
A palavra Capoeira é de origem Tupi Guarani (indígena) significa um tipo de preparo do solo para o replantio (mato cortado rente ao solo) onde os negros ali se encontravam para prática do N'golo devido a obcessão do regimento escravista desenvolvia a alma física como instrumento de libertação. Caracterização da Capoeira Angola. O Capoeirista Angoleiro busca compor seus movimentos com os movimentos do seu adversário, visando tornar o jogo coesco, como ume unidade. O seu senso estético lhe direciona à obtenção de uma sintonia eurrítmica usando movimentos expressivos, variados e ao mesmo tempo funcionais. A movimentação dos jogadores, visivelmente inspiradas em movimentos de animais silvestres, oferece uma grande liberdade e variedade de recursos aplicáveis às diversas situações do jogo que se desenvolve como uma trama, com diferentes passagens. O Capoeirista demonstra sua superioridade no espaço da roda, levando o adversário à confusão com perigo e a complexidade dos seus movimentos.
Naturalmente afloram dos jogadores inúmeras faces de temperamento humano: o medo, a alegria, a raiva, o orgulho, a compaixão, a indiferença e outros sentimentos que tormentam a intriga, exigindo o controle psicológico dos adversários num jogo de estratégia, em que as peças a serem movimentadas são as partes do própio corpo. Os capoeristas devem harmonizar o clima do jogo com o momento da roda, ou seja, jogar de acordo com o toque e o retorno que está sendo tocado pela orquestra, com o sentimento dos versos que estão sendo entoados pelo puxador e pelo côro.
Sagacidade, autoconfiança, lealdade, humildade, elegância são alguns dos fatores subjetivos que qualificam o Capoeirista Angoleiro, herdadas dos antigos praticantes do N'golo. O ser capoerista exige perfeito domínio da cultura, das tradições e do jogo, o toque dos intrumentos e o cantos das músicas.

Música de Capoeira
A Música na Capoeira é tão importante quanto o próprio jogo da Capoeira

Ladainha- Cântico que é entoado na Roda de Capoeira, tradicionalmente na capoeira Angola, que , seguindo a tradição, deve ser cantada por um Mestre - o mais velho e/ou mais considerado -, ou, com a autorização do Mestre da Roda , por um dos Capoeiristas que vão "fazer um jogo", ao "pé do Berimbau". As Ladainhas trazem em seu bojo a história da Capoeira e de seus grandes personagens, concepções de mundo, orientações a algum aprendiz etc. Segundo os "Velhos Mestres" da Bahia, enquanto a Ladainha está sendo cantada, não se realiza nenhum "jogo físico", é necessário aproveitar o momento para dedicar-se à concentração máxima, tendo em vista o correto entendimento da(s) mensagem(ns) que nela está(estão) contida(s).

(Mestre Pastinha)
Yê ! 
Eu vou ler o B-A-Bá
B-A-Bá do Berimbau
a moeda e o arame
com dois pedaçoes de pau
a cabaça e o caxixi
aí está o berimbau
Berimbau é um instrumento
que toca numa corda só
vai tocar São Bento Grande
toca Angola em tom maior
agora acabei de crer
o Berimbau é o maior
Camaradinho
Yê Viva meu Deus
Yê viva meus Deus camarado
...

Yê !
São quatro coisa no mundo
que ao homem consome
uma casa pingando
um cavalo chotão
uma mulher ciumenta
um menino chorão
Tudo isso ele dá um jeito
a casa ele retelha
o cavalo negoceia
o menino acalenta
mulher ciumenta
cai na peia
Yê viva a Bahia
Yê viva a Bahia camarado

Yê !
Lá no céu tem três estrelas
todas as três em carririnha
uma é minha a outra é sua
a outra vai ficar sózinha
Camaradinho
Yê Viva meu Mestre
Yê viva meu Mestre camarado

Yê ! 
Bahia minha Bahia
capital do Salvador
quem não conhece esta capoeira
não lhe dá o seu valor
todos podem aprender
General e também quem é Doutor
quem desejar aprender
venha a Salvador
procure Pastinha
ele é professor
Camaradinho
Yê viva meu Deus
Yê viva meu Deus camarado

Yê ! 
Menino quem te matou ? 
foi a língua meu senhor
eu te dava conselho
pensava ser ruim
e eu sempre te dizendo
inveja matou Caim.
Camaradinho
Yê viva a Bahia
Yê viva a Bahia camarado


Hê...cicade de Assunção
capital do Itamaraty
é engano das nações
das sepulturas do Brasil
Pastinha já foi a África
pra mostrar a capoeira do Brasil
Camaradinho
Yê viva Pastinha
Yê viva Pastinha camarado

 
A Bahia é terra boa
tem de tudo pra se ver
tem gostoso acarajé
tem abará e tem dendê
e tem a capoeira angola
para nós nos defender
Camaradinho
Yê Viva a capoeira
Yê viva a capoeira camarado

Corrido - Cântico da Capoeira que , assim como os toques do berimbau , determina o tipo de jogo dos dois capoeristas:
Apanha a laranja no chão Tico-Tico
se meu amor for embora eu não fico
apanha com a mão , com o pé ou com o bico
sua saia é de renda ou de bico
coro: apanha a laranja no chão tico-tico

Jogo de dentro... jogo de fora
é o jogo de Angola
valha-me Deus e Nossa Senhora
coro:jogo de dentro... jogo de fora

Tabaréu que vem do sertão
Vendo quiabo, maxixe e limão
ele vende quiabo, maxixe e limão
coro: Tabaréu que vem do sertão

Eu sou Angoleiro
Angoleiro é o que eu sou
Angoleiro de valor
Angoleiro de Salvador
Angoleiro sim senhor
meu mestre me ensinou
coro: eu sou angoleiro

Vai você , vai você
Dona Maria como vai você
Joga bonito que meu mestre quer ver
Joga denovo que eu quero aprender
coro: Dona Maria como vai você

Sai sai Catarina 
Saia do má venha ver Idalina
Oi Catarina venha ver
coro: Sai sai Catarina

Dona Maria do comboatá
chega na venda e manda botá
coro: Dona Maria do comboatá

Oi tu que é moleque
moleque é tu
coro: moleque é tu

Olha o nome do pau
coro: é pindobé

Jogo de dentro jogo de fora
jogo bonito este jogo de Angola
coro:jogo de dentro jogo de forta

Tira de lá , bota cá 
Tira daqui, bota ali
coro: Idalina






Berimbau

O berimbau, é um instrumento de corda, de origem angolana, também conhecido como berimbau de peito em Portugal ou como hungu em Angola e grande parte do continente africano.
É constituído por uma vara em arco, de madeira ou verga, com um comprimento aproximado de 1,50m a 1,70m e um fio de aço (arame) preso nas extremidades da vara. Na sua base é amarrada uma cabaça com o fundo cortado que funciona como caixa de ressonância. O tocador de berimbau usa a mão esquerda para sustentar o conjunto e pratica um movimentos de vai e vem contra o ventre, utilizando uma pedra ou uma moeda (dobrão), para pressionar o fio. A mão direita, com uma varinha, percute a corda.




sábado, 19 de fevereiro de 2011

Origem do Samba - Trajetória no Brasil

História do Samba - Um Breve Resumo

          O nome samba é, provavelmente, originário do nome angolano semba, um ritmo religioso, cujo nome significa umbigada, devido à forma como era dançado.

             O primeiro registro da palavra "samba" aparece na Revista O Carapuceiro, de Pernambuco, em 3 de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, escreve contra o que chamou de "samba d'almocreve". O Samba é a principal forma de música de raízes africanas surgida no Brasil.
          Em meados do século xix (19), a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas pelos escravos africanos, desde o Maranhão até São Paulo. O samba carioca provavelmente recebeu muita influência de ritmos da Bahia, com a transferência de grande quantidade de escravos para as plantações de café no Estado do Rio, onde ganhou novos contornos, instrumentos e histórico próprio, de forma tal que, o samba moderno, como gênero musical, surgiu no início do século 20 na cidade do Rio de Janeiro.
             O termo "escola de samba" é originário deste período de formação do gênero. O termo foi adotado por grandes grupos de sambistas numa tentativa de ganhar aceitação para o samba e para a suas manifestações artísticas; o morro era o terreno onde o samba nascia e a "escola" dava aos músicos um senso de legitimidade e organização que permitia romper com as barreiras sociais.


O samba-amaxixado Pelo telefone, de domínio público mas registrado por Donga e Mauro Almeida, é considerado o primeiro samba gravado, embora Bahiano e Ernesto Nazaré tenham gravado pela Casa Édison desde 1903. É deles o samba "A viola está magoada". Há registros também do samba "Em casa de Baiana" (1913), de autoria de Alfredo Carlos Brício. Porém ambos não fizeram muito sucesso, e foi a composição registrada por Donga que levou o gênero para além dos morros. Donga chegou a anunciar "Pelo telefone" como "tango-samba", no Jornal do Brasil de 8 de janeiro de 1917.
            Nos anos trinta, um grupo de músicos liderados por Ismael Silva fundou, na vizinhança do bairro de Estácio de Sá, a primeira escola de samba, Deixa Falar. Eles transformaram o gênero, dando-lhe os contornos atuais, inclusive coma introdução de novos instrumentos, como o surdo e a cuíca, para que melhor se adequasse ao desfile de carnaval. Nesta mesma época, um importante personagem também foi muito importante para a popularização do samba: Noel Rosa. Noel é responsável pela união do samba do morro com o do asfalto. É considerado o primeiro cronista da música popular brasileira. Nesta época, a rádio difundiu a popularidade do samba por todo o país, e com o suporte do presidente Getúlio Vargas, o samba ganhou status de "música oficial" do Brasil.
          Nos anos seguintes o samba se desenvolveu em várias direções, do samba canção às baterias de escolas de samba. Um dos novos estilos foi a bossa nova, criado por membros da classe média, dentre eles João Gilberto e Antonio Carlos Jobim.
        Nos anos sessenta os músicos da bossa nova iniciaram um movimento de resgate dos grandes mestres do samba. Muitos artistas foram descobertos pelo grande público neste momento. Nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Clementina de Jesus gravaram os seus primeiros discos.
Nos anos setenta o samba era muito tocado nas rádios. Compositores e cantores como Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Clara Nunes e Beth Carvalho dominavam as paradas de sucesso.
No início da década de 1980, depois de um período de esquecimento onde as rádios eram dominadas pela música de discoteca e pelo rock brasileiro, o samba reapareceu no cenário brasileiro com um novo movimento chamado de pagode. Nascido nos subúrbios cariocas, o pagode era um samba renovado, que utilizava novos instrumentos, como o banjo e o tantã, e uma linguagem mais popular. Os nomes mais famosos foram Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Grupo Fundo de Quintal, Jorge Aragão e Jovelina Pérola Negra. Atualmente o samba é um dos gêneros musicais mais populares no Brasil e sem dúvida é 
o ritmo que melhor representa a imagem do Brasil e do carioca.



A História do Samba
GRAZIELA SALOMÃO

           O samba, como conhecemos atualmente, tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.
          O gênero, descendente do lundu (canto e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.
        Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.
          Instalados nos bairros cariocas de Gamboa e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na Corte. Eram nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que aconteciam as festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao som de batuques e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam, conseqüentemente, a incorporação de características de outros gêneros cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos conhecidos.
           Em 1917 foi gravado em disco o primeiro samba chamado ''Pelo Telefone''. A música, de autoria reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos), geraria polêmica uma vez que, naquele tempo, a composição era feita em conjunto. Essa canção, por exemplo, foi criada numa roda de partido alto (pessoas que partilhavam dos antigos conhecimentos do samba e designava música de alta qualidade), do qual também participaram Mauro de Almeida e Sinhô (José Barbosa da Silva), que se auto-intitulou ''o rei do samba''.
         Após a primeira gravação, o samba conquistaria o mercado fonográfico e, com a inauguração do rádio em 1922 - único veículo de comunicação em massa até então -, alcançaria as classes médias cariocas. O novo estilo seria, ainda, abraçado e redimensionado por filhos de classe média, como o ex-estudante de Medicina Noel Rosa e o ex-estudante de Direito, Ari Barroso, através de obras memoráveis como ''Tarzan, o filho do alfaite'' e ''Aquarela do Brasil''.
         O advento do rádio ainda transformaria nomes como Francisco Alves, Orlando Silva e Carmen Miranda em grandes ídolos do samba.
As escolas de samba do Rio de Janeiro
          Entre as décadas de 20 e 30, o gênero ganharia muitas variações tais como o samba-enredo, o samba-choro e o samba-canção. É desse período, também, o surgimento dos sambas criados para os grandes blocos de Carnaval. A primeira escola de samba surgiria em 1929 no Estácio - tradicional bairro de boêmios e da malandragem da cidade. Chamada de 'Deixa Falar', fez sua primeira aparição na Praça Onze como um bloco de corda e inovava no ritmo: a nova batida era capaz de contagiar qualquer folião, diferentemente dos sons anteriores mais monótonos.
         No ano seguinte, novas cinco escolas surgiriam para participar do desfile na Praça Onze: a ''Cada Ano Sai Melhor'' (do Morro de São Carlos), a ''Estação Primeira de Mangueira'', a ''Vai como Pode'' (atual Portela), a ''Para o Ano Sai Melhor'' (do Estácio) e a ''Vizinha Faladeira'' (das redondezas da Praça Onze). Com a repercussão do gênero, a cada ano surgiam mais escolas para participar dos desfiles de Carnaval.








terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Análise do Filme "Hotel Ruanda"

O GENOCÍDIO (No cinema)


     Um dos filmes mais conhecidos e premiados sobre Ruanda, chama-se “Hotel Ruanda”, do diretor Terry George. Ele conta a história de um hutu chamado Paul Rusesabagina. Na época ele era gerente do “Hotêl des Milles Collines” e através de seu bom coração, bons contatos e um pouco de suborno, conseguiu salvar a vida de mais de 1.200 tutsis, que permaneceram abrigados no hotel durante as matanças. O filme mostra que em Ruanda o clima era de tensão, e em abril de1994, as rádios começavam a anunciar que alguma “coisinha” iria acontecer em Ruanda nos próximos dias e que o som de balas e granadas iria ser ouvido. “‘Nas duas últimas semanas, toda Kigali tem vivido sob a ameaça de uma operação relâmpago, cuidadosamente preparada, para eliminar todos os que dão trabalho ao presidente Habyarimana. Então, na noite de 06 de abril de 1994, as rádios anunciavam que o avião onde o presidente Habyarimana e seu colega hutu Cyprien Ntaryamira, presidente do Burundi estavam, havia sido derrubado e não havia sobreviventes. Na época, a FPR foi responsabilizada pelo “atentado” e esse teria sido o principal motivo, o estopim, para que todos os hutus matassem todos os tutsis. Essa era ordem. Porém, diante dos fatos anteriormente narrados, fica claro que o assassinato do presidente fora premeditado e organizado pelos líderes hutus e não pelos tutsis.           O Poder Hutu não estava satisfeito com o presidente já há algum tempo. Não o achavam suficientemente severo com os tutsis, a população estava cada vez mais pobre e como se não bastasse, o presidente vinha assinando acordos de paz e estabelecendo cessar-fogo entre os hutus e tutsis, tudo com a vistoria da ONU. Relatos dos sobreviventes do massacre contam que logo após a queda do avião em que estava o presidente, uma onda de assassinatos e pilhagem começou e instintivamente os tutsis abandonavam suas casas e procuravam abrigos. Nas estradas começaram a surgir bloqueios, onde as pessoas eram revistadas e suas identidades era a maior prova de suas etnias e, consequentemente suas posições políticas.
         O que se pode constatar depois do trabalho dos veículos de comunicação e do julgamento dos principais envolvidos, é que a morte do presidente Habyarimana foi arquitetada pelo Poder Hutu, onde todos os líderes oposicionistas ou líderes moderados não só deveriam como seriam os primeiros a serem assassinados. Além da conveniente justificativa de ataque que suas mortes proporcionavam. A exemplo do que ocorreu com a primeira-ministra Agathe Uwilingiyimana, cuja casa foi cercada por soldados belgas da UNAMIR. No entanto, o contingente contava somente com dez soldados, que em menor número e inferiormente armados, acabaram sendo seqüestrados, torturados e mortos pelo exército ruandês. Este fato foi decisivo para que a ONU diminuísse ainda mais sua intervenção em Ruanda, pois passou a retirar seus soldados do país e a apoiar os estrangeiros a deixar o Estado. Retiravam os “brancos” dos hospitais, igreja, maternidade, convento e os levavam de carro até o aeroporto, onde seguiam para seus países ou para qualquer outro lugar fora dali, que fosse seguro.
Valérie Nyirarudodo, enfermeira e parteira na maternidade Sainte-Marthe, lembra-se: ‘Eles pararam defronte do portão. Pediram às três irmãs brancas que aprontassem a bagagem de mão, imediatamente. Disseram: ‘Não adianta nada perder tempo com despedidas, é pra já’. Essas suíças pediram para ser acompanhadas por suas colegas tutsis de capuz branco. Os militares responderam: ’Não, elas são ruandesas, o lugar delas é aqui, é preferível deixa-las com seus irmãos e irmãs’. O comboio partiu, seguido por uma caminhonete de interahamwe cantando. É claro que pouco depois as freiras tutsis foram decepadas, como os outros’. (HATZFELD, 2005, p.
104)
      O filme “Tiros em Ruanda” mostra claramente que os soldados da ONU não estavam ali para estabelecerem ou manterem a paz. Faziam questão de ponderar o tempo todo que manter a paz dependia do desejo e esforço dapopulação (hutus e tutsis). Eles estavam ali somente para monitorá-la. Neste filme, o conselheiro de Kigali, Zibomana deixa claro que os hutus preferiam que os “brancos” fossem embora, para que não atrapalhassem o “trabalho” deles. Os hutus diziam que os “ruandeses devem cuidar dos ruandeses”. E graças a intervenção da ONU e de países como a França, os “brancos” foram mesmo embora, não querendo ver aquilo em que não podiam acreditar. Um genocídio é algo sobrenatural, como diziam os próprios ruandeses. O extermínio da população tutsi, que havia sido preparado há meses pelos hutus finalmente teve início. No entanto, esse “trabalho”, como era denominado pelos hutus, não ficou restrito apenas ao exército e a interahamwe, mas, como se pode ver no filme “Tiros em Ruanda”, se estendeu a toda população que através das rádios era conclamada a matar todos os tutsis e hutus moderados. E de repente, cidadãos comuns pegavam facões e saiam às ruas para “caçar” os tutsis, para exterminá-los. Por cidadãos comuns entendem-se os lavradores dos campos, professores, médicos, jogadores de futebol, prefeitos, padres e pessoas que conviviam lado a lado, como vizinhos. Nada e nem ninguém (salvo os que conseguiram escapar ou se esconder) estava a salvo. Nas colinas, onde o número de lavradores hutus era muito grande, reuniões eram feitas em campos de futebol e a população era orientada a matar todos os tutsisHATZFELD, 2005, p. 20)Jean Hatzfeld é um jornalista francês que escreveu sobre o genocídio de Ruanda, o holocausto ocorrido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial,e sobre várias outras guerras como a da Bósnia e Somália. Em seu livro Uma temporada de facões: relatos do genocídio de Ruanda, o autor ouviu o depoimento de um grupo de dez matadores em Ruanda, presos na penitenciária de Rilima, onde cumprem pena pelos crimes cometidos durante as matanças. Eles eram amigos desde a infância, estudaram juntos e moravam perto uns dos outros. A franqueza de seus relatos impressiona e por isso serão transcritos, para mostrar a realidade daquela época, assim como os relatos de algumas vítimas de seu livro e também da obra de Philip Gourevitch. Ignace Rukiramacumu explica como as matanças nas colinas eram organizadas: IGNACE: A gente se reunia numa multidão de mil pessoas no campo, partia para as matas em companhia de cem ou duzentos caçadores, éramos levados por dois ou três homens armados de fuzil, militares ou intimadores. Na borda lamacenta das primeiras fileiras de papiros, a gente se separava em grupos de conhecidos. (HATZFELD, 2005, p. 23) Por serem lavradores, a maioria dos hutus estava familiarizada com o facão. No entanto, havia os que nunca tinham matado nem mesmo uma galinha sequer e pagavam a outras pessoas para fazê-lo. Por isso, quando as matanças começaram, a maioria tinha técnica apurada para matar as pessoas. As que não sabiam, ou se intimidavam com o facão, a interahamwe estava lá para ensiná-los. Além do que, o facão custava menos do que o fuzil e por isso foi muito mais utilizado do que as armas. ÉLIE MIZINGE: O porrete quebra mais, mas o facão é mais natural. O ruandês está acostumado com o facão desde a infância. Agarrar um facão na mão é o que fazemos toda manhã. Cortamos os sorgos, talhamos as bananeiras, desmatamos os cipós, matamos as galinhas. Até as mulheres e as meninas pegam o facão para as tarefas menores, como rachar lenha para a cozinha. É esse mesmo gesto para diferentes utilidades que nunca nos deixa desorientados. Quando você se serve do ferro para cortar o galho, o animal ou o homem, ele não dá palpite. Basicamente, um homem é que nem um animal, você o corta na cabeça ou no pescoço, ele morre por si só. Nos primeiros dias, quem já tinha matado galinhas, e sobretudo cabras, levava vantagem; compreende-se. Mais tarde, todo mundo se acostumou com aquela nova atividade e recuperou o atraso. (HATZFELD, 2005, p. 46) A forma como os tutsis eram reconhecidos pelos hutus no meio do “bruaá”7 das matanças é interessante, para não dizer assustadora, tendo em vista que ambos falavam a mesma língua, tinham a mesma religião, moravam no mesmo lugar e até mesmo as diferenças físicas não eram assim tão perceptíveis. A resposta é muito simples: os assassinos sabiam quem eram suas vítimas unicamente porque eram seus vizinhos, alunos ou professores, padres ou fiéis, médicos ou pacientes, gente que se viam todos os dias, e que nunca chegaram a ter verdadeiramente um conflito com essas pessoas. Era um vilarejo e todos sabiam da vida de todos, sem exceção. 7 Bruaá era uma das formas pela quais os hutus se referiam ao genocídio. Bruaá era usada como confusão, agitação. E, um dos fatos mais espantosos é que, em Ruanda, assim como em muitos lugares do mundo, vários ditadores já conseguiram a submissão de sua população, mas em nenhum caso foi registrado, assassinos que marchavam em grupos cantando, enquanto realizavam seu “trabalho”. IGNACE: Os que queriam cantar cantavam. Não escolhíamos canções especiais para reforçar o encorajamento, não cantávamos nenhum verso patriótico como esses das músicas do rádio, nenhuma palavra feia ou que caçoasse dos tutsis. Não precisávamos de estrofes de estímulo, escolhíamos com a maior naturalidade canções tradicionais que nos agradavam. Em suma, éramos um coral em marcha. Nos pântanos, bastava vasculhar e matar, até o apito final. Às vezes um tiro de fuzil substituía o apito, e essa era a única novidade do dia. (HATZFELD, 2005,p. 23-24)
         Em Ruanda, as pessoas procuravam abrigo em locais que consideravam seguros como igrejas, conventos, hospitais, escolas e maternidades. No entanto, nenhum desses lugares foi poupado. Pelo contrário, o maior número de pessoas mortas de uma só vez foram ali registrados. E o pior é que essas pessoas geralmente procuravam abrigos nesses lugares porque alguma autoridade como prefeitos ou padres ou tinha encaminhado para lá. Ficavam protegidos uns poucos dias, subornavam o exército algumas vezes, mas a verdade é que o fim era inevitável. É como mostra o filme “Tiros em Ruanda”, onde a Escola Técnica Oficial abrigou e protegeu com a ajuda da ONU muitos tutsis e alguns hutus moderados também, no entanto, quando a ONU bateu em retirada alguns dias depois, deixou que aproximadamente 2.500 pessoas fossem assassinadas na Escola. Uma chacina “famosa” ocorreu em uma igreja católica, na montanha de Nyarubuye, onde centenas de pessoas foram mortas a facões e tiros de fuzil. Homens, mulheres, crianças, velhos. Nessa igreja, nem mesmo as estátuas ficaram intactas. Elas foram decapitadas, assim como os tutsis, um a um. E o curioso desse episódio é que os corpos e restos mortais da igreja de Nyarubuye nunca foram enterrados. Permaneceram da mesma forma e disposição com que foram mortos, para que servisse de lembrança, um verdadeiromemorial.
Gitera Rwamuhuzi era habitante local e participou do massacre da igreja. Para ele, como a Frente Patriótica Ruandesa foi responsabilizada pela morte do presidente Juvénal Habyarimana, o povo hutu de sua aldeia foi levado a acreditar que os tutsis haviam começado a matar os hutus por gente da cúpula e que depois viriam os lavradores comuns como ele. ‘Na manhã de 15 de abril de 1994, cada um de nós acordou sabendo o que devia fazer e aonde ir porque nós tínhamos feito um plano na noite anterior. De manhã nós acordamos e começamos a caminhar para a igreja [...] Éramos tantas pessoas que estávamos tropeçando uns nos outros. As pessoas que carregavam granadas lançaram-nas. Os tutsis começaram a gritar por ajuda. Enquanto elas gritavam, os que portavam arma abriram fogo. Elas gritaram que estavam morrendo, pediam ajuda, mas os soldados continuavam atirando. Eu entrei e, quando vi um homem, eu bati nele com uma marreta e ele morreu [...] Havia mais matadores do que vítimas. Quando nós entramos, era como se estivéssemos competindo para matar [...] Aqueles que nós atacávamos não diziam nada. Eles estavam apavorados e ninguém disse nada. Eles devem ter se sentido traumatizados [...] Eu vi gente com mãos amputadas, sem pernas, e outros sem cabeça. Eu vi de tudo. Especialmente gente rolando no chão e gritando de dor, sem braços, sem pernas. Gente morrendo em condições muito ruins. É como se nós tivéssemos sido possuídos por Satã [...] Nós não éramos nós mesmos. Começando por mim, eu acho que eu não estava no meu normal. Não se está normal quando se começa a massacrar pessoas sem motivo [...] Essas pessoas eram meus vizinhos. A imagem da morte deles talvez jamais deixará a minha mente. Todo o resto eu posso tirar da cabeça, mas essa imagem nunca irá embora’ ( RUANDA, 2004, p. 1-3)
     A franqueza de seu depoimento assusta, porém, ele torna-se ainda mais verdadeiro quando Flora Mukampore, sobrevivente tutsi do massacre da igreja, relata sua experiência daquele dia. Ela teve 17 parentes mortos no genocídio e afirma que em 15 de abril de 1994, as pessoas que estavam na igreja acreditavam que ninguém ousaria atacar um lugar sagrado. E acrescenta que nunca imaginou que todos pudessem ser mortos, pois eram muitas pessoas. E tudo se torna ainda mais real quando declara que seu vizinho Gitera realmente estava entre os assassinos. ‘Todos aqueles que estavam sendo mortos caíram em cima de mim porque eu estava perto da porta [...] Meu corpo estava coberto de sangue, que começou a secar, então os assassinos pensaram que eu estava morta [...] Pude ouvir um homem se aproximando e acho que ele percebeu que eu estava respirando. Ele bateu na minha cabeça perguntando ‘essa coisa ainda está viva?’ Imediatamente ouvi todo o meu corpo gritar ‘uhaaa’. Algo em mim mudou para sempre. Tudo parou. Depois, quando o vento frio soprou, eu recuperei os sentidos. Mas não percebi que haviam corpos ao meu redor. Não lembrava o que havia acontecido. Pensei que eles seriam pessoas normais, então dormi ao lado deles, como havíamos dormido antes da chegada dos assassinos. Mais tarde ouvi uma garota dizendo: ‘ela está podre, acabou para ela. Ela parece humana para você?’ Então percebi que todos ao meu redor haviam morrido. Quando eles me fizeram sentar, percebi que haviam vermes e comecei a remove-los do meu corpo. Você consegue imaginar viver entre os mortos? Em algum momento Deus me ajudou e me fez inconsciente porque se eu não estivesse, talvez tivesse cometido suicídio [...] Veja só, as pessoas morreram no dia 15 de abril e eu vivi entre eles até o dia 15 de maio’. (RUANDA, 2004, p. 1-2)
         Outra igreja que foi alvo de ataques freqüentes foi a Sagrada Família que fica em Kigali. No dia 15 de abril de 1994, 150 homens foram mortos, e eram escolhidos um a um. “Os assassinos tinham listas, e muitos deles eram vizinhos das vítimas e podiam reconhecê-las ao primeiro olhar” (GOUREVITCH, 2006, p. 122). Bonaventure Nyibizi, um sobrevivente tutsi relata como conseguiu escapar com sua família naquele dia: ‘Entrei numa pequena sala com minha família, e assim que fechei a porta a Sagrada Família se encheu de soldados, milicianos e polícias. Começaram a perguntar por mim, mas por sorte não arrombaram a porta do lugar onde eu estava. Fiquei lá com minha mulher e as crianças. Havia umas vinte pessoas ao todo naquele cômodo minúsculo’ Bonaventure tinha com ele uma filha de três meses. ‘Mantê-la em silêncio foi o mais difícil’. (GOUREVITCH, 2006, p. 123) E ao ser perguntado sobre a atitude e postura dos padres,  espondeu: ‘Um deles era bom, mas ele próprio foi ameaçado, então se escondeu em 13 de abril, e o outro padre responsável estava muito à vontade com a milícia. Era o famoso padre Wenceslas Munyeshyaka. Era muito ligado ao exército e à milícia, e andava com eles para lá e para cá. Em princípio não chegou a denunciar ninguém, mas não fez nada pelas pessoas’ (GOUREVICTH, 2006, p. 123). Na maternidade Sainte-Marthe, enfermeiras, parteiras e parturientes e cidadãs comuns vinham junto com seus filhos em busca de abrigo. Por três dias pagaram ao exército a quantia de 200 mil francos. Valérie: ‘No terceiro dia, não podíamos mais pagar uma soma daquela. Os militares disseram que não fazia mal, porque não podiam mesmo fazer mais nada por nós. Assim que saíram, os interahamwe chegaram. Eram muito numerosos, pois sabiam que aquela maternidade suíça era opulenta e tinha sido bem abastecida: com sacos de grãos, colchões de molas, água destilada e remédios. Primeiro apanharam tudo o que encontraram, sem deixar nada; depois mataram todos que encontraram, sem poupar ninguém; finalmente revistaram os cadáveres das mulheres de bom nível, para ter certeza de que não haviam esquecido nada’. (HATZFELD, 2005, p. 100).  Negociar com o exército ruandês era uma prática muito comum naqueles dias. Para quem tinha uma boa situação financeira, é claro. O exército podia poupar a vida dessas pessoas por alguns dias em troca de produtos baratos como cervejas e cigarros. Jóias e alguns mil francos também eram oferecidos e poupavam vidas enquanto era conveniente e lucrativo para eles. Do mesmo modo, entre os hutus, aqueles que faltassem ao “trabalho” deveriam pagar multas ou cumprir castigos. FULGENCE BUNANI: Se estava doente, devia se explicar, abertamente.
Se pedia um dia de folga para preparar o urwagwa8, tinha de oferecer uma cota da bebida em barris. Se estava simplesmente fraco, pelo excesso de bebida durante a noite, a coisa podia passar sem problema; era compreensível, para qualquer pessoa, só que não devia se repetir logo em seguida. Mas ai de você caso aproveitasse para ficar zanzando no centro comercial durante o dia. Se você fosse pego, era mandado de volta imediatamente, na frente de todo mundo. (HATZFELD, 2005, p. 85). PIO MUTUNGIREHE: Todo dia subíamos até o estádio, depois decidíamos. Para os lavradores era obrigatório. Quem trapaceava era castigado com uma multa. Em geral ela custava 2 mil francos, mas dependia da gravidade. Se você não podia pagar, dava um garrafão de urwagwa ou uma folha de zinco de qualidade. Houve até quem pagasse a multa com uma cabra. (HATZFELD, 2005, p. 85). Embora os números não sejam precisos, em Ruanda, a grande maioria das mulheres tutsis foi estuprada antes de serem mortas. E era uma prática até natural e feita pelos homens sem remorso, já que aquelas mulheres deveriam ser mortas de qualquer jeito, por que não se divertir com elas um pouco antes? 8 Urwagwa é uma bebida muito conhecida nas colinas, é um vinho de banana muito forte. Sua produção é feita enterrando-se bananas por três dias em um buraco para que fiquem maduras. Espreme o suco e mistura-se com farinha de sorgo para fermentar por mais três dias, sendo que deve ser consumido nos três dias seguinte à fabricação. ADALBERT MUNZIGURA: Havia duas categorias de estupradores. Os que pegavam as garotas e a usavam como mulheres até o fim, ás vezes até na fuga para o Congo. Aproveitavam-se dessa situação para dormir com umas tutsis bonitonas, mas em troca demonstravam um pinguinho de consideração. E os que as agarravam para fazer sexo só para se divertirmenquanto bebiam. Violentavam-nas por um tempinho e logo depois as entregavam para ser mortas. Não havia nenhuma recomendação das autoridades, as duas categorias tinham liberdade de fazer o que quisessem. (HATZFELD, 2005, p. 112) A conseqüência ainda mais triste é que dessas mulheres estupradas, aproximadamente 65% contraiu AIDS, assim como houve um grande número de crianças infectadas e abandonadas por terem sido fruto dessas violências. E em 1999, aproximadamente 130 mil crianças com menos de 05 anos estavam infectadas pelo vírus do HIV, segundo os dados fornecidos pelo Programa Nacional Ruandês de Luta contra a AIDS (PNLS). Prova disso é o relato feito pela jornalista Graciela Damiano, que esteve em Ruanda em 2001 e entrevistou uma sobrevivente tutsi: Winifrid Mukagihana, uma tutsi que conheci em Kigali, disse que cinco dos seis filhos dela foram mortos no genocídio de 1994, assim como o marido. Aparentando ter mais de 40 anos, ela diz que foi estuprada por um grupo de milicianos hutus. Ela estava grávida na época e deu à luz apenas para ver o recém-nascido atirado aos cães. Ela também contraiu o vírus HIV, como 65% das mulheres estupradas durante o genocídio. Winifrid vive de memórias, caridade e uma indenização do governo que mal chega aos 50 reais por mês. (2003, p. 3). Durante os 100 dias do genocídio, nenhum casamento ou batizado foi realizado. Nenhuma partida de futebol ou celebrações importantes foi comemorada. O único motivo que os hutus achavam para festejar eram os bons tempos de fartura em que estavam vivendo. Isso porque os hutus não criavam vacas, na verdade não sabiam como criá-las. Viviam da lavoura e se davam por satisfeitos quando não precisavam comprar comida no mercado. Aliás, as vacas eram motivos de discussões entre os vizinhos tutsis e hutus, porque estes reclamavam que as vacas dos tutsis invadiam suas plantações e estragavam tudo. Como exposto no capítulo anteiror, no tópico 1.1 Surgimento das “Etnias”, os tutsis tinham melhores condições econômicas que os hutus e por isso não só comiam, como se vestiam melhor. Tinham rádios em suas casas, jóias e boas folhas de zinco em seus telhados. Com as matanças vieram as pilhagens e com isso os hutus desfrutaram de tudo aquilo que nunca haviam tido na vida. Comiam carne, vestiam- se bem, ouviam bons rádios e cobriam suas casas com folhas de zinco. Para muitos, a felicidade provocada pelo genocídio os cegava quanto aos sentimentos de culpa e remorso. FULGENCE: Durante as matanças, os vizinhos davam a você, de passagem, mais do que se podia pôr na marmita, uma fartura, e não cobravam nada. A carne passou a ser tão insignificante como a mandioca. Os hutus sempre se sentiram frustrados por não ter vacas, pois não sabiam cria-las. Diziam que elas não eram gostosas, mas era por causa da penúria. Por isso, durante os massacres, se esbaldavam, comiam carne de manhã e à noite. (HATZFELD, 2005, p. 73) Clémentine: ‘De noite, as famílias ouviam música, havia danças folclóricas. Música ruandesa ou burundiense. Graças à grande quantidade de rádios e toca-fitas obtidos nas pilhagens, as famílias se divertiam com a música, em todas as casas. Todos se sentiam mais ricos, igualmente, sem ciúme nem fuxico, e se congratulavam. Os homens cantavam, todos bebiam, as mulheres trocavam de vestido três vezes por noite. A farra era maior que nos casamentos, eram bacanais diárias’. (HATZFELD, 2005p. 110).
            Na verdade, os hutus tinham inveja dos tutsis, de sua boa vida e de seus bens. Por invejarem também suas feições, cortavam-lhes os pés nos “tendões de Aquiles” para que ficassem menores. Mas nada justifica a união dessas pessoas para matar quase 1 milhão de outras, que eram seus vizinhos e conhecidos. James Orbinski, ainda realizava trabalho humanitário em Ruanda nessa época. Ele era um físico canadense e descreveu a cidade naqueles dias: ‘Uma terra de ninguém. A única coisa viva era o vento, exceto nos bloqueios das ruas, e os bloqueios estavam por toda parte. Os membros da interahamwe eram apavorantes, sedentos de sangue, bêbados – eles dançavam um bocado nos bloqueios. Tinha gente carregando familiares a hospitais e orfanatos. Levava dias para se conseguir andar dois ou três quilômetros. E chegar a um hospital não era garantia de segurança’ (GOUREVITCH, 2006, p. 131). Comparações com o Holocausto são sempre feitas. No entanto, talvez, sem todo aquele aparato tecnológico dos quais dispunham, como “metralhadoras pesas, infra-estrutura ferroviária, fichários, caminhões com monóxido de carbono e câmaras de gás Zyklon” (HATZFELD, 2006, p. 82), os alemães não teriam conseguido matar tantos judeus. É por isso que, assustadoramente em Ruanda, com seus instrumentos arcaicos e subdesenvolvimento tecnológico, a matança se mostrou mais eficiente e ainda mais monstruosa, pois em 100 dias, quase 1 milhão de pessoas foram assassinadas. E ainda fizeram isso cantando. O povo era a arma, e isso significava todo mundo: a população hutu inteira tinha que matar a população tutsi inteira. Além de assegurar uma vantagem numérica óbvia, esse arranjo eliminava qualquer questão sobre responsabilidade que pudesse ser levantada. (GOUREVICTH, 2006, p. 94).
         As contas são muito simples, porém, assustadoras. As estimativas mais precisas são de que entre 06 de abril e 4 de julho de 1994, foram mortos entre800 mil e 1 milhão de pessoas. Por isso, de 8 a 10 mil pessoas morriam por dia emtodo o país. Isso dá entre 333 e 416 pessoas mortas por hora, ou entre 5,5 e 6,9 vidas fossem exterminadas a cada minuto. A FPR, que avançava cada vez mais país adentro, conseguiu capturar milhares de líderes hutus e os mantinha em um estádio. Com isso conseguiam pouco a pouco negociar “trocas” com o Poder Hutu. A UNAMIR ajudou no acordo e fornecia transportes. E assim foram evacuando os “prisioneiros” pouco a pouco, caminhão a caminhão, em comboios. Os tutsis que se refugiavam em hotéis e igrejas foram salvos graças às ameaças da Frente Patriótica Ruandesa e eram levados em comboios para as zonas dominadas por ela. É o que mostra o filme “Hotel Ruanda”, onde vários comboios de pessoas foram sendo retirados do hotel.
Alguns desses comboios sofreram ataques pela interahamwe que bloqueava as estradas, pois suas partidas eram divulgadas pelo rádio também. Mas no dia 18 de junho parte o último comboio da ONU para os locais dominados pela FPR, levando Paul e sua família, que conseguiram salvar 1.268 tutsis e hutus moderados. A cidade estava dividida ao longo de seu vale central: a leste, onde Orbinski estava baseado, a FPR detinha o controle; a oeste, a cidade pertencia ao governo. A Unamir e os poucos funcionários de emergência como Orbinski gastavam horas em negociação a cada dia, tentandoviabilizar trocas de prisioneiros, refugiados e feridos entre os dois lados dalinha de frente. Sua eficácia era extremamente limitada. (GOUREVITCH,  2006, p. 131).
          Em Ruanda, até os cachorros foram exterminados. Isso porque conforme a FPR ia avançando, matavam os cachorros que estavam devorando os corpos dos tutsis. A ONU finalmente atirava. Contra os cachorros, é claro. Isso para evitar possíveis problemas de saúde. O descaso da ONU, dos países ocidentais e vizinhos africanos é  desconcertante. As Nações Unidas retirou de Ruanda 90% de suas tropas, passando a contar com um contingente de somente 270 soldados. E a palavra genocídio era ignorada por todos. Que ela não era pronunciada pelos assassinos, compreende-se; mas não ser dita por chefes e ministros de Estado para evitar uma
intervenção é ainda mais desumano do que seu próprio significado. A porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christine Shelley, declarou: [...] rejeitar a denominação de genocídio porque ‘há obrigações que aparecem em conexão com o uso do termo’. Ela quis dizer que, sendo um genocídio, a Convenção de 1948 exigia que as partes contratantes agissem. Washington não queria agir. Então Washington fazia de conta que não era um genocídio. (GOUREVITCH, 2006, p. 149) JEAN-BAPTISTE: É uma verdade: entre nós, nunca a pronunciávamos. Muitos não sabiam nem mesmo o significado da palavra ‘genocídio’. PIO: Um genocídio parece bem extraordinário para quem chega depois, como o senhor, mas para quem se deixou confundir pelas palavras dos intimidadores e pelos gritos de alegria dos colegas, isso se apresentava como uma atividade habitual. (HATZFELD, 2006, p. 250 e 256). Enquanto isso a FPR ia avançando do leste para o oeste e os hutus é que fugiam para o exílio agora. Os mesmo líderes que incentivavam as pessoas a matar agora, enfraquecidos e ameaçados pelo exército de aproximadamente 20 mil tutsis, encorajavam as pessoas a deixar o país e seguir para o exílio. A França, como sempre, apoiava os hutus e ofereciam-lhes mais armas e tropas francesas iam para a linha de combate. Então, no dia 02 de julho tomou Butare e em 04 de julho de 1994 conquistaram Kigali. A FPR era comandada pelo general Paul Kagame e nesse período, aproximadamente 1 milhão de hutus fugiram com medo de serem tratados da mesma forma com que trataram os tutsis.. Em 19 de julho, foi criado um governo de colisão entre a FPR e líderes do Poder Hutu, que tinha Pasteur Bizimungu como presidente e Paul Kagame como vice. As Forças Armadas passaram a se chamar ex-FAR e a FPR era apenas o antigo movimento rebelde, sendo que o novo exército de Ruanda foi chamado de Exército Patriótico Ruandês. Chega ao fim o genocídio de Ruanda. Porém, o imenso número de exilados nos países vizinhos como Uganda, Burundi e Zaire são preocupantes e passou a ser motivo de novas preocupações, massacres e doenças. Para muitos sobreviventes, aquela nação africana foi abandonada. Até mesmo para os assassinos, como Élie, o mundo inteiro virou-lhes as cotas “‘Os boinas-azuis, os belgas, os diretores brancos, os presidentes negros, as pessoas humanitárias e os cinegrafistas internacionais, os bispos e os padres, e finalmente até Deus’”. (HATZFELD, 2005, p. 164-165). Como surgiu um genocídio como este é difícil saber, as razões são muitas e complexas. Estão intrínsecas a seu povo, talvez. JOSEPH-DÉSIRÉ: ‘A fonte de um genocídio o senhor jamais verá, está enterrada bem no fundo nos rancores, sob um acúmulo de desentendimentos dos quais herdamos o último. Chegamos à idade adulta no pior momento da história de Ruanda, fomos educados na obediência absoluta, no ódio, fomos entupidos de fórmulas, somos uma geração sem sorte’ (HATZFELD, 2005, p. 193-194). E, o mais preocupante é saber que se as causas não forem combatidas, as pessoas punidas, o perdão aceito e a reconciliação proposta, casos como o de Ruanda podem acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar. Como se pode constatar no depoimento da ruandesa Jeannette: “’Quando houve um genocídio, pode haver outro, a qualquer momento no futuro, em qualquer lugar, se a causa continua presente e não sabemos qual é’” (HATZFELD, 2005, p. 172). O genocídio que aconteceu em Ruanda foi a pior chacina que ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial. E muitos sequer sabem que Ruanda é um país da África. Um genocídio é sobrenatural, como dizem os ruandeses. Mas mais sobrenatural é o fato do mundo inteiro ficar de braços cruzados, vendo (ou não) o que se passa com seus semelhantes. A origem e razões de um genocídio devem ser sempre consideradas para que novos episódios voltem a acontecer. Ruanda hoje tem um governo estável. Com um líder que realmente pensa na “unidade ruandesa”. Tribunais foram criados, o perdão é difundido e a punição juntamente com a reconciliação são o melhor caminho para a construção de uma antiga nova nação onde tutsis e hutus possam viver em harmonia.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Material sobre Ruanda - "História"


 HISTÓRICO DE RUANDA


          A República de Ruanda é um país que fica localizado no coração do continente africano, ou seja, territorialmente está na chamada África Central. Faz fronteira com Uganda ao norte, Burundi ao sul, Tanzânia ao leste e ao oeste com a República Democrática do Congo (ex-Zaire). Tem uma extensão de 26.340 km² e conta com uma população de aproximadamente 9,3 milhões de pessoas (2007), divididas principalmente em três etnias: hutu, tutsi e twa. Ruanda é conhecida como “País das Mil Colinas”, pois é um território bastante montanhoso e com encostas íngremes. Segundo informações do site de Ruanda, o país apresenta uma variedade de relevos que vão desde densas florestas equatoriais irregulares no nordeste, passando por pântanos, morros, até chegar a savanas tropicais no leste. Possui também picos vulcânicos, cujo ponto mais elevado é o Vulcão Karimsibi, com 4,507 metros de altitude. Tem um clima tropical de temperatura temperadas-cálidas por causa da altitude, a neblina é sempre intensa, com duas estações dominantes de chuvas durante o ano, março-maio e outubro-novembro. Há eucaliptos e bananeiras por toda parte. Possui uma agricultura de subsistência, onde o chá e o café são os principais produtos de exportação e o franco ruandês é a moeda nacional. Os idiomas oficiais são o francês, inglês e o quiniaruanda.
     As estradas de Ruanda são as melhores da África Central e seu sistema hidrográfico é composto pelo lago Kivu e pelo rio Ruzizi que leva as águas
do lago para o Tanganica. Kigali é a capital com aproximadamente 500 mil habitantes e as principais cidades são: Batear, Bamba, Ruhengeri, Butare, Kayonza, Gisenyi, Kibuye, Cyangugu, Kibungu, Gitarama e Nyagatore.
Ruanda é uma República presidencialista, onde o atual Chefe de Estado é o General Paul Kagame e o poder Legislativo é formado pela Assembléia Nacional e pelo Senado. (Site oficial da República de Ruanda)


RUANDA: MEMÓRIAS DE UM GENOCÍDIO
         A colonização européia de Ruanda, um país localizado na chamada África Central e os problemas por ela causados, entre os quais o genocídio. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica com livros, revistas, jornais, doutrinas, documentários, filmes, e sites específicos da Internet. Fez uso dos métodos dedutivo e indutivo, importantes para uma conclusão sobre o tema pesquisado. Abordou-se o processo da colonização européia ocorrida no país, primeiro pela Alemanha e depois pela Bélgica. Ruanda é um país africano, cuja população está dividida principalmente em três etnias: hutu, tutsi e twa. Desde o período pré-colonial havia algumas diferenças entre as “raças”, mas foi com a colonização que elas se tornaram motivos de repressão, exclusão e conflitos. Isto porque, para os colonos belgas, os tutsis, pastores em sua maioria, era um povo mais evoluído e, além disso, possuíam traços físicos mais finos e distintos, se assemelhando aos europeus, apesar dos efeitos da miscigenação. Para eles, os hutus eram baixos e “brutos”, tinham feições mais “feias” por causa de seus narizes e bocas mais grossos, cabelos e peles mais escuros. Não sabiam criar gados e por isso foram transformados nos vassalos dos tutsis, que tinham cada vez mais poder econômico e político, assim como melhores condições de vida, tornando-se aristocratas por muitos anos. Com o passar do tempo, a Bélgica, já enfraquecida e sofrendo pressão das Nações Unidas para favorecer a independência de Ruanda, decide passar o poder político para os hutus. Através de uma série de processos, reformas e golpes os hutus assumiram o poder e passaram a perseguir os tutsis, tirando-os dos cargos políticos, estipulando cotas para escolas, hospitais e universidades. Vários ataques em massa contra a população tutsi foram perpetrados ao longo dos anos. Os principais ocorreram em 1959, 1973 e 1990. Até que em abril de 1994, após um atentado ao avião do presidente hutu Juvénal Habyarimana – que vinha assinando acordos de paz e cessar-fogo com o exército rebelde dos tutsis, chamado de Frente Patriótica Ruandesa - cuja culpa recaiu sobre os tutsis; imediatamente os líderes do Poder Hutu e suas milícias denominadas interahamwe passaram a massacrar os tutsis de todo o país. Incendiavam suas casas, pilhavam seus bens, estupravam as mulheres, matavam crianças recém-nascidas. Locais como igrejas, conventos, escolas e hospitais não foram poupados e foram palcos dos maiores números de assassinatos em massa. A ordem era toda a população hutu matar toda a população tutsi. A Frente Patriótica Ruandesa foi avançando e realizando trocas entre os prisioneiros hutus de seu lado e prisioneiros e vítimas tutsis do outro, até que em julho de 1994, cem dias depois do início das matanças, conseguiram tomar a capital kigali e a maioria das cidades de Ruanda. Com isso, mais de um milhão de hutus fugiram para os países vizinhos, principalmente para o Congo (ex-Zaire), porém, deixando para trás quase um milhão de mortos, casas queimadas, lavouras destruídas, doenças como AIDS e malária, órfãos e muitos milhões de refugiados.


BIBLIOGRAFIA

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