terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estudos Sobre A Origem e Importância do Movimento Sindical Africano - No momento das Independências

Pesquisa que está sendo realizada pelo aluno: Antonio Luzia Dias - do curso de Pós-Graduação - História da África e do Negro no Brasil - desenvolvido na Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO), o presente trabalho tem o objetivo de apresentar a importância do movimento sindical africano, no contexto político das resistências à colonização e processo de construção das independências dos países africanos.


Movimentos Políticos Africanos


O período de colonialismo foi enfrentado o tempo todo com resistência, traduzido por várias formas de lutas. Quanto à resistência cotidiana, algumas formas mais usadas foram às doenças simuladas, o ritmo lento de trabalho, as fugas, a sabotagem de equipamentos, as queimadas de entrepostos, as pilhagens de armazéns das companhias concessionárias e de negociantes locais, a destruição de transportes e de linhas de comunicação e as fugas para zonas desabitadas.
Essas reações de enfrentamento são importantes como expressões de descontentamento e inquietações traduzidas em não-resignação, contrapondo-se a idéia corrente de passividade e até de certa apatia perante as imposições do sistema colonial.
Os países europeus intervieram na vida econômica dos territórios africanos de múltiplas formas, utilizando-se do exercício da autoridade, presente em mecanismos extremamente regidos de subordinação.
Esses mecanismos vão levar que as massas rurais se revoltassem, sobretudo onde o pan-islamismo e as igrejas separatistas e independentes africanas proporcionaram fortes pontos de apoio a insubordinação.
A exploração de minérios trouxe o aparecimento de uma comunidade industrial urbana na União Sul-Africana. A grande parte da mão de obra africana e, embora tivesse uma remuneração inferior a dos chefes e operários europeus, ainda assim era maior do que a dos africanos das demais regiões da África do Sul do Saara.
A grande crise durante os anos entre 1920 a 1930 trouxe graves conseqüências para o mundo capitalista e também para o continente africano. A queda nos preços dos produtos produzidos no “Terceiro Mundo” em relação aos produtos manufaturados, como conseqüência, o colonialismo e dependência acabaram sendo refutados mesmo por aqueles que se beneficiavam com eles.
O descontentamento fez-se presente de maneira acentuada para o grosso da população, dando ensejo ao surgimento de uma base de massa para a mobilização política anticolonial.
Este fato facilitou a aproximação entre as elites políticas africanas e as massas rurais e urbanas dos vários espaços africanos. Esse período de crise aguada vai provocar mudanças nas estruturas administrativas internas. Com todas as dificuldades, a estrutura da economia nas possessões européias do continente africano apresentava significativas mudanças, criando as condições necessárias para complexificar a estrutura social. Integradas a programas coloniais modernizadores foram feitas as primeiras reformas que iriam dar ensejo a constituição dos primeiros sindicatos e partidos políticos que em particular nas Áfricas Central e Setentrional, provocaram as primeiras grandes greves trabalhistas de massa após 1935, começando no cinturão do cobre centro-africano. No período de 1935 a 1940, foram inúmeras as greves em todo continente, ainda que poucas vezes de sentido anticolonial.
De acordo com Elikia M’ Bokolo – [AFRICA NEGRA 2007] p. 517 – Embora as evoluções intelectuais, políticas, até psicológicas, entre as elites africanas, mo período da descolonização, sejam relativamente bem conhecidas, o campo das práticas populares continua quase inteiramente por arrotear. É claro que os partidos independentistas sempre postularam uma relação imediata entre as suas palavras de ordem e as aspirações das classes populares. Mas o historiador não poderia aceitar como fato adquirido a imagem que os atores sociais produzem e tem de si mesmos. Os “relatos de vidas banais” que os investigadores começam a recolher sugerem uma complexidade extrema nas articulações entre os diferentes grupos sociais componentes dos espaços políticos africanos. Para se chegar a uma visão mais ou menos satisfatória dessa complexidade seriam necessários muitos outros estudos, em especial sobre a história de cidades e aldeias, sobre as diferentes regiões políticas, sobre as mudanças e dinâmicas sociais nos diversos meios geográficos e econômicos, sobre os diferentes modos de captação e de inteligibilidade do político consoante os lugares e os grupos sociais, sobre a utilização política de redes tecidas, por exemplo, pelas migrações e pelo vaivém das transações, etc. Para já, uma quantidade de idéias feitas, produzidas a quente ou posteriori pelas propagandas e contrapropagandas, devem ser implacavelmente revistas.
Elikia M’ Bokolo afirma em [ÁFRICA NEGRA – 2007], p.517-518 “Assim, numa visão conforme com o paradigma “tradição e modernidade”, pensou-se
durante muito tempo que as “massas rurais” tinham sido “politizadas” pelas cidades. Pois bem, agora já é possível, em alguns casos privilegiados, pôr em evidencia os fatores de toda espécie – ora religiosos num caso, ora econômicos e fundiários noutros, ora históricos e culturais noutros ainda – que permitiram, nos meios rurais, a produção autônoma de esquemas de compreensão do político no contexto colonial, de leituras dos acontecimentos e de estratégias diferentes dos que tinham emergido nos meios urbanos. Seria então necessário entender os movimentos nacionalistas como “frentes” e “alianças” sempre instáveis e fazer destas contradições um dos motores da vida política africana desde a época das independências até aos nossos dias. Há muitas outras pistas a sondar. Assim, um produto tipicamente urbano, aculturado e despolitizado como a música de variedades manifesta-se como um dos pólos mais ativos das práticas sociais heterogêneas que interpelam a sociedade global e uma das linguagens mais fecundas para exprimir as múltiplas aspirações das classes populares.
Podemos notar que os movimentos de trabalhadores acabam se integrando aos movimentos políticos dentro de uma “frente” nos partidos independentistas e mesmo antes da guerra e as reivindicações africanas tinham encontrado diferentes movimentos que poderiam amadurecer as suas exigências e fazer ouvir suas vozes.
Esses movimentos tinham origens diversas, sindicatos, grupos de intelectuais, associações de defesa de interesses, grupos religiosos, grupos étnicos ou regionais, grupos de pressão com objetivos sociais ou políticos.
Citação... “Os movimentos sindicais e os partidos políticos que aparecem timidamente antes da guerra, iriam conhecer o seu pleno desenvolvimento durante a marcha para a independência: admitidos pelas autoridades coloniais, apoiando-se em movimentos sociais radicalizados, adquirindo formas novas e uma dimensão sem precedentes, foram as armas decisivas que permitiram a África recuperar sua soberania”.
De acordo com Elikia M’ Bokolo em [ÁFRICA NEGRA – 2007], p 518 – O Movimento Sindical – De entre as formas “modernas” de organização da contestação e de expressão política de que a África soube munir-se, o sindicalismo é uma das mais antigas. Os sindicatos desempenharam, aliás, um papel fundamental no amadurecimento das consciências africanas, na
passagem da contestação dos efeitos do sistema para a contestação do próprio sistema, e na passagem da contestação para a ação.
Citação... “A história do sindicalismo africano – até a década de 1930, as metrópoles, inquietas com a agitação que o movimento sindical poderia criar em África, tinham tentado desencorajá-lo por meio da sua proibição mais ou menos clara. Estas restrições não tinham impedido que surgissem vários movimentos, desigualmente estruturados, como foi o caso do Congo Belga, onde houve greves durante a guerra”.
[...] “O mais antigo sindicato negro foi sem dúvida o Industrial and Commercial Workers Union, criado em 1919 na África do Sul, que já em 1926 contava com 60 000 membros. Também em Serra Leoa o movimento sindical foi precoce”.
[...] “As características do sindicalismo africano – Durante os vintes anos que durou a marcha para independência, o sindicalismo africano foi marcado por algumas grandes constantes: dificuldade de recrutamento, devida em parte ao analfabetismo, à diversidade lingüística e étnica e ao medo dos trabalhadores perante as possíveis represálias. Estes fatores tiveram as mesmas características nos diversos territórios”.
A preponderância de algumas profissões de caráter geralmente estratégico, como os mineiros, os estivadores, os ferroviários, os marinheiros e os membros da função pública, já que, salvo na África do Sul, a indústria estava muito pouco desenvolvida para poder representar um núcleo potencial.
Contudo, a história do sindicalismo em África foi, sobretudo assinalada por três fenômenos principais: autonomia – criação de Federação – politização do movimento.
A autonomia estava ligada por decorrência dos modelos os quais foram criados nos moldes do sindicalismo europeu, onde vários sindicalistas europeus prestavam certo tipo de solidariedade, portanto os trabalhadores africanos vêem a necessidade de buscar autonomia para o movimento sindical africano. No caso das Federações eram experiências também do sindicalismo europeu, que buscavam articulações entre as federações e as confederações. E por fim essa idéia da politização fazia parte de um modelo africano, uma vez que o movimento sindical, lutava junto com os partidos políticos na luta pela independência, esse movimento buscava certo nível de politização.
Bibliografia
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na Sala de aula – visita à historia contemporânea. – 2 ed. Ver. São Paulo: Selo Negro, 2008.
M’ BOKOLO, Elikia. África Negra – História e Civilizações do século XIX aos nossos dias – Tomo II. Edições Colibri. São Paulo, 2007.

Ruanda - Uma História que o Mundo Escondeu

Genocídio de Ruanda: Descrição a partir da linguagem do cinema: Filme Hotel Ruanda – 2005.

Ruanda

Um pequeno país africano localizado na África Centro oriental, na chamada região dos Lagos, seus vizinhos: Burundi, Uganda, Tanzânia e República do Congo. Está região teve forte presença francesa, alemã, belgas e também dos ingleses que disputavam nessa região riquezas minerais e uma influência política no final do século xix.
No início do século xx, os belgas assumiram a colonização de Ruanda em decorrência da derrota da Alemanha na Primeira Grande Guerra Mundial, Ruanda um país essencialmente agrícola e com uma população pequena em torno de sete milhões de habitantes. Esta população estava dividida em três principais etnias que carregavam diferenças históricas, mas tratavam estas diferenças dentro de certa harmonia.

Estas etnias constituíam características diferentes:
a)- Os hutus formavam a maior parte da população em torno de 85%, tendo as seguintes características: eram de pele mais escura, tinham os aspectos mais negróide, seus lábios eram mais grossos, nariz mais achatados, com altura menor em relação aos tutsis, ocupavam as áreas agrícolas, possuíam baixa escolaridade e faziam parte da população mais empobrecida de Ruanda.
b)Os Tutsis somavam em torno de 14% da população, suas características físicas os diferenciavam dos hutus pelos seguintes aspectos: eram mais altos e de pele mais clara, seus rostos e narizes mais afilados, viviam mais próximos das montanhas,  eram pastoreiros e criadores de gados, atividade mais valorizada do ponto de vista econômico, tinham melhor escolaridade o que os colocavam nos melhores cargos administrativos públicos e políticos.
c)    E por fim 1% da população eram twas, que eram remanescentes dos pigmeus, dos quais as outras duas etnias também tinham suas origens.


A partir da década de 1950, vários conflitos foram registrados entre hutus e tutsis, esses conflitos vão culminar com o chamado genocídio de Ruanda em 1994. Esse episódio resultou em um grande massacre da população tutsi e simpatizantes, uma vez que essas duas etnias tinham hábitos de miscigenação.
Esse trabalho de pesquisa pretende demonstrar que a omissão da imprensa internacional no episódio que teve seu ápice de abril a julho de 1994, trouxe conseqüências desastrosas para a população ruandesa, enquanto esse evento acontecia em Ruanda, outro evento que ocupavam os espaços jornalísticos a copa do mundo e que se realizava nos Estados Unidos, país com grande influência na ONU.
O filme Hotel Ruanda pruduzido uma década depois, vai trazer uma divulgação do episódio que ainda muito pouco conhecido pela maior parte da população no mundo. O filme vai falar do massacre a partir de depoimentos de sobreviventes e principalmente de Paul Rusesabagina – gerente do Hotel Mille Collines. Nesse trabalho pretendemos analisar outras fontes que demonstre que essa omissão não só da imprensa, mas também de outros setores das organizações internacionais, tais como: ONU, Direitos Humanos e a Igreja,  que essas omissões custaram a vida de mais de um milhão de pessoas.

Filme: Hotel Ruanda
O filme Hotel Ruanda é uma produção do cinema hollydiano, dirigido pelo cineasta Terry George, um irlandês que vive nos Estados Unidos. Terry George se interessou pela história de Ruanda que lhe foi apresentada pelo jornalista e roteirista Keir Pearson, onde o roteiro parte da vivência de Paul Rusesabagina, um gerente do Hotel Dês Mille Collines de propriedade do grupo belga, Paul é um hutu, casado com uma tutsi e que após 1994 foi viver na Bélgica.





Keir Pearson
Roteirista – que divide os créditos com o diretor Terry George. Keir Pearson ouviu uma história do genocídio através de um amigo que estava na Tanzânia, uma história sobre Paul Rusesabagina, um hutu que havia abrigado em torno de 1200 tutsis no Hotel Dês Mille Collines, onde trabalhava como gerente, um hotel de luxo de um grupo empresarial belga.
Keir Pearson – entra em contato com a embaixada de Ruanda nos Estados Unidos e neste momento encontra uma mulher que foi sobrevivente do massacre e através dessa entrevista decide entrar em contato com Paul Rusesabagina que estava morando na Bélgica desde 1996, o qual lhe atendeu prontamente e se dispôs a falar sobre o genocídio de 1994.

Terry George
É um irlandês, roteirista e diretor, dirigiu o filme Hotel Ruanda, o qual foi adaptado a partir do roteiro escrito por Keir Pearson, com base em eventos da vida real que teve lugar em Ruanda durante a primavera de 1994. Hotel Ruanda explora o genocídio, corrupção política e as repercussões da violência.
Como o filme é independente, tinha uma liberação inicial limitada nos cinemas, lançado nos Estados Unidos, Itália e África do Sul em número reduzido de salas. Portanto o filme ganhou vários prêmios pela relevância da temática abordada.